quando se é novo é para toda a vida...
de antónio lobo antunes encontrado na versão revista e reencontrado aqui Não sei a idade dele. Tem o cabelo branco, o bigode branco, rugas em parênteses sucessivos dos lados da boca, um dos olhos morto, sepultado no caixão das pálpebras, as mãos tremem um bocadinho à procura das coisas e dá-me a impressão que as coisas o ajudam aproximando-se, misericordiosas - Agora podes da dificuldade dos dedos. Quando estão viradas para esse lado as coisas são simpáticas, quando não estão escapam-se da gente, rolam, escorregam, caem no soalho, partem-se: é preciso tratá-las com bons modos ou apanhá-las distraídas, de costas para a gente, saltar-lhes para cima - Já cá cantas e as coisas, que remédio, aceitam. Então convém segurá-las pelo pescoço, de preferência com os dentes, e esmagar-lhes as vértebras num movimento rápido, como os leopardos fazem aos antílopes. Esmagar-lhes as vértebras talvez não seja boa ideia porque as coisas amolecem e deixam de servir. O melhor é seduzi-las d...