o pequeno marinheiro solitário...

dirigi-me a ele porque estava sózinho, sentado no degrau e triste porque o jantar era peixe e ele não gostava de peixe, de peixe nenhum, desejava que o jantar fosse pizza ou hambúrguer com sumo e gelado à sobremesa, mas era peixe e ele não gostava de peixe. sobre esse assunto não posso fazer nada, mas talvez este seja um peixe especial que tu vás gostar, ainda não viste como foi cozinhado, vamos esperar para ver é que sabes eu também não gosto de peixe, no entanto estou certa que este vai ser diferente e me vá saber bem. perguntei-lhe porque estava sózinho disse-me que para além de não gostar de peixe também não gostava da sua cor, é que os outros gozam, como é possivel não gostares da tua cor és castanho chocolate, eu gostava de ser da tua cor, queres trocar? encostamos os braços um ao outro, ele disse-me não dá, não dá para trocar e lá foi brincar. ficámos na mesma mesa e, tal como eu que não gosto de peixe, comeu tudo até ao fim. depois foi no passeio nocturno em que ia-mos enfrentar os lobos e os ursos que vivem na serra de sintra agarrou-me a mão, estava com muito medo, o seu coração batia forte e não parava de perguntar como eram os ursos, se era seguro ir, se eles comiam pessoas respondi a tudo que sim e o medo crescia dentro dele e hesitava em avançar mas continuava, como se sentisse que o medo a qualquer momento podia ficar insuportável comecei a tranquilizá-lo e a dizer que provavelmente àquela hora os ursos estariam a dormir, por isso bastava que não fizesse barulho e os ursos nem dariam pela nossa presença, ele persistia mas os outros, os barulho dos outros pode acordar os ursos, não te preocupes com isso. depois de um silêncio...
Ele - de que cor são os ursos?
eu -castanhos
ele - e as orelhas dos ursos?
eu - castanhas
ele - e só há ursos dessa cor?
eu - não também há brancos mas esses não vivem aqui na serra de sintra por isso com esses não tens que te preocupar... (silêncio) olha se os ursos são castanhos se calhar não comem pessoas da mesma cor que eles
o meu coração sorriu e confirmei a sua expectativa
eu - olha, isso é verdade já viste a tua sorte eu também tenho um bocadinho de sorte que sou um bocadinho castanha e pode ser que por ser tua amiga eles também não me comam a mim...
...
já no páteo da casa ouviam-se barulhos no jardim e só o meu pequeno amigo lhes dava atenção 3 adultos e ele
insistiu que vinham barulhos do jardim, que deviam ser ursos ou lobos, como que não lhe ligassemos
disse em jeito de pensamento audivél avançando para o jardim
eu sou castanho chocolate, os ursos não comem pessoas da mesma cor que eles, vou ver!
apanhou o susto da vida porque do jardim veio em direcção a ele o V. que lhe pegou ao colo
ao grito seguiu-se uma sonora gragalhada
depois de toda esta emoção foi hora de dormir
(...)
o pequeno marinheiro solitário recorria à minha companhia até que uma das meninas com quem partilhei o quarto me veio perguntar tu és prima dele, respondi que sim, ele disse-me então conheces-me desde pequenino, claro disse-lhe eu... mais tarde que não é fácil mentir a uma criança, a mesma menina veio dizer-me olha se tu e ele são primos, porque é que não sao da mesma cor? tive que lhe dizer que havia uma razão simples o nosso avô era da mesma cor mas os meus pais e os pais dele não era daí eu ser mais pálida que ele. não voltou a fazer perguntas, assim sendo parece que a consegui convencer.
(...)
intrigava-me o facto do menino estar sempre a brincar sózinho, observava-o de longe, vi-o arrastar um enorme tronco para cima de um monte de folhas e depois sentou-se no tronco e lá estava ele sózinho, no tronco, sentado... aproximei-me dele e como já não pudesse suportar a curiosidade perguntei-lhe o que é que estava a fazer em cima do tronco. J - estou a brincar aos barcos! E - então tu és um marinheiro solitário... J - o que é isso? E - é um senhor que anda no mar num barco sózinho! J - e os tubarões não o comem? E - não os tubarões normalmente são amigos desses senhores, já que eles não têm companhia e não querem fazer mal aos tubarões!

infelizmente todas estas situações não foram inventadas por mim,
não tenho criatividade para tal...
mas é tão bom quando a realidade supera a ficção

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