há coisas que só se "aprendem" a 2...




O calor da paixão, o frio da tristeza, o terror do destino não pode ser dado, tem que ser criado na relação com outrém.




… ninguém ensina nada a ninguém, as pessoas é que aprendem.

joão dos santos (1913-1987)


... com simplicidade, na(s) relação(ões)... só porque eu existo, tu existes e te(me) dou(ás) espaço para existires em mim(ti).


eu mesma



nunca aqui falei da casa da praia um espaço que para mim (e não só) é mágico, de riso, de histórias de (des)encantar de lágrimas, de aprender, de sonho, mas também de muita realidade.


nunca tinha falado porque é um sítio meu, de intimidade, de coração, um sítio que só partilho com pessoas para lá de especiais que me fazem aprender sempre e em todos os momentos! além de manter uma dificuldade extrema em traduzir em palavras todas as coisas que lá vivi!


cruzei-me, pela primeira vez, com ele (joão dos santos) por volta de 1992, a ana deu-me e um livro chamado casa da praia - o psicanalista na escola, dizendo "lê vais gostar!!!" eu - em plena crise dos 15 anos - peguei no livro, olhei com desdém e pensei para mim, o que é que alguém como nome joão santos terá escrito de tão interessante para me ensinar, nada!!!" (tão errada que eu estava,mas redimi-me), mas guardei-o no fundo da estante.


5 anos volvidos, mesmo antes de pensar em mudar para psicologia, voltam a falar-me no joão, veio-me à memória o local onde o tinha colocado e descobri a cada página com grande entusiasmo, li o livro como se de um romance se trata-se, fiquei a saber que aquele tinha sido o último livro que o sr. joão escrevera (tinha falecido ainda antes de ter sido editado), fiquei triste porque percebi que não teria oportunidade de conhecer o sr. joão e voltei a guardá-lo no fundo da estante... ia ser biologa marinha!


mais 2 anos e já em psicologia voltei a desencantar o livro que ia ganhando importância na minha vida, fazia todo o sentido lê-lo de novo, agora ganhava dimensão cientifica, apesar de nunca ter percebido porque é que nestes 2 anos de curso tinham omitido a existencia do sr. joão... decidi nessa altura que afinal, o sentido desta minha frequência universitária não seria trabalhar com toxicodepentes, mas com crianças e que queria fazer estágio lá mesmo, na casa da praia.


partilhei esta minha decisão com uma amiga que me disse "é o sonho de muitos, mas não me parece que vás ter sorte, nem sei se eles aceitam pessoas em estágio". "mas eu quero" embora perante tal afirmação tivesse resolvido guardar o meu desejo no cantinho mais recondido da minha memória... apesar de ter guardado o sonho em mim, comecei a partir daí a procurar tudo o que o sr. joão tivesse escrito, porque gostava de o ler, trazia-me em cada palavra para perto do sonho.


outro par de anos se passou até finalmente alguém falar no sr joão e nos dizer que ele existia e sabia pensar e eventualmente até poderiamos aprender alguma coisa de útil com ele, a casa da praia também e nos dizer da importância da cenoura e do rabanete e do ouvir, da festa e do sentar no chão, da casa e da imitação, das batalhas imaginárias e da matemática, para a psicologia em geral e para nós, futuros psicologos em particular.


foi no ano lectivo seguinte cumpri finalmente o meu sonho que mantinha guardado bem lá no fundo da memória, foi lá que fiz o estágio curricular, depois a monografia, depois comecei a trabalhar e continuei em estágio, o estágio-do-gosto-tanto-de-aqui-estar-e-tenho-uma-vida-inteira-para-aprender-e-não-me-importava-nada-que-continuasse-a-ser-aqui, estágio este que se manterá com mais ou menos assiduidade dependendo das solicitações e que a cada ano muda o nome para não se tornar repetitivo.


agradeço ao sr joão por ter existido, ter (d)escrito com tanto amor, ter pensado, ter sonhado, ter realizado, ter lançado as sementes necessárias para que muitos quisessem aprender (miudos e graúdos), ter sido como foi e continua a ser no coração de muitos...


joão dos santos


encontrei guardadinha no disco do pc... esta é "a" foto que eu procurava ...

Comentários

Anónimo disse…
És uma prova viva de que "querer é poder".

No seguimento de uma conversa que tivemos, fui visitar o site da "Casa da praia". E, curiosa, fiz pesquisa sobre a vida de João Santos. Simplesmente não há palavras para tamanho altruísmo, força de vontade e muito, mas muito "querer é poder" que esse senhor tinha.

Cabe a pessoas como tu, e não só, dar continuidade àquilo que ele começou. E sei que darás conta do recado. Sempre.

;)*
disse…
o lema do signo do sr. joão é Ponham-me a trabalhar, acrescento eu, que eu faço e FEZ... ainda bem!!!
Clau disse…
Sabes uma coisa?
"Bemmmmmmmmmmm bonito!" Acho que o "meu" André e o Sr. dos Rabanetes se iriam dar lindamente. Também não seria difícil.

De facto o Dr. João dos Santos era um especialista da relação, do sentir, da entrega, do ensinar (ou do aprender-se a aprender)... um especialista da criança e da criança no adulto.
Mais do que um especialista João dos Santos era, com certeza, muito ESPECIAL.
Só assim se explica a ternura e o orgulho como as pessoas o descrevem... como se ainda estivesse tão presente...

A Casa da Praia é assim, especial, como o seu criador... É sempre um privilégio sentir isso mesmo, in loco... E se tu és uma priveligiada, por alguma razão será...


Ah! Não tenho nehuma foto do Dr. João dos Santos mas,em contrapartida, tenho umas da Casa da Praia. Até te sugiro uma... a de um coelho assim barrigudo, actor de profissão... Dizem que os coelhos gostam de cenouras, quem sabe de rabanetes!

Embora abrir uma filial de casas da Praia?
Beijo

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